domingo, 2 de março de 2008

Arquivos secretos do Conversando Literaturas

Na última sexta-feira a cúpula do Conversando reuniu-se no bom e velho Tombadilho para encher a cara e definir os rumos do projeto em 2008. É bem provável que migremos para outro campus da UFF, mas isso ainda não está acertado, bem como o dia dos encontros, que não será mais às terças-feiras. Ou seja, mudanças à vista, mas o espírito do grupo ainda é o mesmo: primeiro a literatura; depois a birita.

Então exploremos os clichês que falam de renascimento e imortalidade e apelemos aos arquivos secretos do Conversando Literaturas. O projeto teve início no dia 18 de agosto de 2005, em tertúlia realizada nas dependências da Universidade Federal Fluminense, no Gragoatá. Eu não estive presente, mas os relatos a respeito estavam perdidos até então. O amigo Max Heleno bem escreveu sobre a noite de estréia:

"Parafraseando a abertura-slogan do pessoal do www.ocupimdeferro.com.br (“ansiamos pelo dia em que a política nos deixará falar de poesia”), abrimos, Fabiano (o metafrasta), eu e mais 13 bravos, um vão no mar de lama no qual se afogam nossos sonhos de igualdade e nossos dias e paramos para ler/ouvir um pouco de Literatura.

"No auditório 218, do Bloco C da UFF, no dia 16/08, às 19 horas, começou o Conversando Literaturas, cartaz do amigo-design Marcelo Souza, idealizado por mim, aperfeiçoado e capitaneado pelo Fabiano e por mim. O “Conversando...” tem a idéia de apresentar novos nomes e novas literaturas para os seus integrantes.

"Desta forma, brindando com o vinho oferecido pela Lidador, com a presença das professoras Lívia Reis e Márcia Paraquett, pudemos participar de um ambiente em que flutuaram o racionalismo de Jorge Luiz Borges, com seus labirintos e repetições, a prosa espontânea de Jack Kerouac, o lirismo-fantástico de Julio Cortázar (obrigado, Ivan), a autenticidade poderosa de Arturo Arias e um pedacinho do Memórias de Minhas Putas Tristes do fantástico, em mais de um sentido, Gabriel García Márquez.

"Momento Mágico, Momento Mágico (viva Verissimo, via Fabiano)!!

"Enganamos o mundo por uns momentos. Para descortiná-lo em outras formas, por vezes, até mais duras. Por outro lado, nunca é demais lembrar o velho e poderoso Belchior (o cantor-filósofo): “isto é somente uma canção / a vida realmente é diferente / quer dizer / ao vivo é muito pior.”

"E assim, no próximo dia 30, às 20 horas, entregues aos cuidados de Fabiano Morais, conheceremos o mundo beat de Jack Kerouac com mais cores. E, quando a adaptação para o cinema de On the Road, por Walter Salles, passar por aqui, nós já teremos passado pela obra de Kerouac com nossos próprios olhos.

"Aguardamos vocês no dia 30/08".

O Reverendo Fabiano, responsável por minha entrada em tão seleto grupo, também registrou o nascimento do Conversando em seu blog suicida:

"terça-feira passada (16/08) demos, eu e máximo heleno, a partida no projeto "conversando literaturas", que pretende abrir um espaço na universidade federal fluminense para um bate papo informal sobre diversos autores de várias nacionalidades, entre eles, jack kerouac, jorge luiz borges, arturo arias, gabriel gárcia marquez e julio cortázar. para os que quiserem saber como foi a tertúlia de inauguração e como será o projeto daqui em diante, visitem o crônicas à deriva para um pequeno relato sobre a iniciativa que vai desbancar as rodas de leitura do ccbb.

"abraços".

Os demais registros continuaram até o fim do Ciclo Kerouac, quando as atas passaram a ser escritas exclusivamente por membro menos talentoso, mas cujo tempo ocioso por si só o gabaritava para a tarefa. No entanto, Fabiano Morais e o jovem Max Heleno ainda escrevinharam em seus blogs algumas impressões sobre os Vagabundos iluminados, as quais reuniremos aqui, em breve.

TMJ.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Rubem Fonseca: segundo encontro

Ainda não foi dessa vez.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Rubem Fonseca: "Não dá mais para Diadorim".

Como eu já esperava, causou mal-estar e estranheza nosso esvaziado último encontro do Conversando Literaturas, abrindo o ciclo do velho Rubem, o Fonseca, aquele que alimenta os pombos numa praça do Leblon e aplaude abstrusidades cometidas por jovens petulantes capazes de cometer livros como O matador. É claro que assim Diadorim vai pras cucuias: atimbora, porra.

Atarefado com os cargos e desencargos da Biblioteconomia, tive pouca ou nenhuma oportunidade de divulgar este novo ciclo de maneira adequada. Não afixei nenhum cartaz colorido nas entradas dos prédios nos campi, nem deixei nos murais dos armarinhos lembretes para o sensacional encontro - sequer alardeei, pelos puteiros, a chance única de Conversar Literaturas com um pornógrafo. Como Otavio teve um piriri súbito, Camila errou o caminho da sala 505 do bloco C e Lila preferiu furar mesmo, éramos poucos, mas empolgados e liberados, sem pruridos quanto a um taquiupariu mais premente, apesar dos ânimos anestesiados dos bravos não-ausentes.
Foi nesse clima de camaradagem que adentramos, sem retorno previsto, no mundo de Rubem Fonseca, cujo "realismo feroz", para usar expressão cunhada por Alfredo Bosi, caracteriza tão bem seus contos e romances. Com O outro, buscamos entender a transfiguração do pedinte que entrega nas mãos de seu benfeitor compulsório o caixão imaginário de sua mãezinha, recebendo em troca um tiro para aliviar todo o estresse que a culpa burguesa busca exorcizar ao ignorar a pobreza. O gravador, grotesco e arabesco, destacou-se pela fluidez dos diálogos e a solidão do personagem paralítico, confinado a uma cadeira de rodas e à invisibilidade social. Um dia na vida é exemplo de estória sem começo e fim, como sugere o título, e de exercício de refinado humor praticado por um dos escritores mais sacanas do Brasil. Mas todos esses contos, citados de passagem, resfolegam sublimes em Intestino grosso, realizado anos mais tarde em Secreções, excreções e desatinos.
Pro velho Rubem, uma casa onde nunca se ouviu um puta que pariu não pode ser normal, e o fato de que nossos avós apenas iam pra cama, ao invés de simplesmente foder, é algo por si só indecente. Como a estorinha de João e Maria, "sacanagem, no significado popular de sujeira que a palavra tem. E por isso pornográfica". Ciente de que Feliz ano-novo era prato cheio pra censura, escancarou de vez, alfinetando aqui e ali seus futuros algozes: "ao atribuir à arte uma função moralizante, ou, no mínimo, entretenedora, essa gente acaba justificando o poder coativo da censura, exercido sob alegações de segurança ou bem-estar público". A linguagem dita pornográfica é posta em xeque diante atitudes que são consideradas normais por muitos, como o grito das torcidas em dia de jogo no Maracanã, símbolo de catarse em nada diferente das funções excretoras e sexuais, comuns aos seres humanos, que encontram eco em palavras e expressões condenadas pelos mais sensíveis - e proibidas em suas representações pela mão de ferro do Estado. "Eu nada tenho a ver com Guimarães Rosa, estou escrevendo sobre pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado". Estou arrependido de ter escrito tanto até aqui, ao invés de simplesmente reproduzir a frase anterior - o epitáfio perfeito para sua obra.
Hoje li uma entrevista do Fausto Wolff publicada no JB. Acho que se enganaram, publicando a foto de um velho todo descaralhado no lugar daquele belo gaúcho que certa vez exibiu seu perfil de galã na quarta capa de O acrobata pede desculpas e cai. "Escrevi dois livros de contos porque estava na hora de escrever livros de contos. Talvez sejam meus melhores. Por outro lado, foi bom mostrar ao Fonseca que ele não é o único. Em verdade, odeio esse cara porque devo reconhecer que ele escreve melhor do que eu". Vai ser modesto assim na puta que pariu.
Atiê e TMMJCL...

p.s.: meu pai (o jovem grisalho da foto, na cabeceira da mesa) esteve conosco neste primeiro encontro, prestigiando este que vos tecla. como estávamos mansinhos, não presenciou nenhum de nossos clássicos arranca-rabos. quem sabe na próxima ele dá sorte e nos acompanha na cervejinha da praça.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Post Scriptum - Até, João Guimarães Rosa

Isto posto, o que me resta dizer mais sobre Guimarães e os conversadores literatos que não conseguem, por mais que se esforcem, sequer resvalar na mediocridade? Prova maior disso foi a grata surpresa deste último ciclo, agora em novo formato mensal. Longe - mas muito longe mesmo - de duvidar das capacidades cosmogônicas de Otavio, ninguém esperava levar uma rasteira ainda maior que as aplicadas por Borges e Cortázar, tampouco sofrer da mesma larica ocasionada pelos vagabundos iluminados de Kerouac & cia. O que o velho Guima, psicografado pelo jovem Otavio, nos trouxe de novo, foi a complexidade da vida simples do sertanejo, a musiquinha brejeira que aperta o coração quando toca na memória, a infância perdida que a vida adulta transformou em fábula, em sonho - e em poesia.
Foi tudo muito bonito, minha gente, até a porradaria estancou no melhor espírito cavalheiresco, talvez uma mesura, quiçá esforço hercúleo, em respeito ao nosso retorno à academia. A bela salinha do bloco C, no quinto andar, com capacidade de sobra para todo o nosso público - que a cada ciclo parece beirar o ideal, sempre revelando um novo participante cuja presença conseguimos desejar por mais de um encontro - parece nos inspirar e dar forças para prosseguirmos na empreitada, que nem é tão estafante como costumamos dizer por aí.
É isso. Não preciso me estender: Otavio já disse tudo. A mim só resta publicar as frases da noite e aprontar o velho Rubem para setembro próximo.
TMMJCL
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FRASES DA NOITE:
* "Todo mundo leu O apanhador no campo de centeio e eu achei um... um... um livro". (Max, homenageando Salinger)
* "Os grandes temas se esgotaram na bíblia". (Fabiano citando o missionário R.R. Soares)
* "Tem uns textos que a gente reclama co-autoria". (Reverendo esquecendo de vez aquele papo de mediocridade)
* "O Otavio fez um recorte genial"... (Sortudinho esquecendo de vez as piadas sobre o Kerouac)
* "Que coisa legal: blog"! (Professora Dalva, mentindo para nós)
* "Eu já fiz parte do grupo". (Adriana, rachando minha cara)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Pequeno balanço do Ciclo Guimarães

Pensei, no início do ano, que não conseguiria organizar um ciclo a altura do velho Guima, principalmente por não ser um estudioso do autor. Os ciclos foram passando e percebi que a vontade que todos tinhamos de ler Guimarães se tornou mais forte do que a necessidade de 'aprender' sobre ele. Lembro da descrição dos olhos sacis feita por Marlon; lembro da participação relâmpago de Alexandre e seu enciclopedismo rosiano; lembro do primo do Max comparando Guimarães a Sarney; lembro de Fabiano Morais abrindo o terceiro encontro dizendo que não gostou de Meu tio, o iauaretê; Lembro... A verdade é que o ciclo caminhou ao gosto do Rosa. Fomos conduzidos por suas palavras e nossas reflexões quase sempre esbarravam no elogio. Até que chegamos ao último encontro e lá estava, como prometido, a Professora Dalva Galvão. Miguilim era a bola da vez. Tinhamos um texto longo, não lido na íntegra por todos. Tudo propício a não render. E ela o fez. Cercou de palavras nossos pensamentos frouxos, alinhavou os momentos taqueopariu e construíu, através de uma emocionante leitura, o cenário mais perfeito para o desfecho de nosso momento rosiano. Miguilim fez com que percebessemos um pouco de tudo que vimos nos encontros anteriores e que olhássemos além. Vimos com Miguilim, se me permitem o trocadilho, que o bom mesmo é 'viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma.' Encerramos então o ciclo Guimarães Rosa percebendo que as histórias estão todas ditas. Já se falou de tudo, já se fez todo possível. A literatura, essa que chamamos assim por sabê-la assim, sempre nos revela algo novo em sua mesmice. Vide Borges. Saímos dos chapadões e do Mutúm para habitar as ruas do Rio de janeiro. Não, não é o Pan. São as veredas de Rubem Fonseca e sua arte de saber andar pela cidade.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Em algum lugar, lendo Guimarães...

Quisera eu ter algo de novo e retumbante a dizer sobre a terrível condição humana e seus inúmeros revéses. O apavorante fardo da consciência; a probabilidade nada remota de qualquer existência resultar apenas do acaso; a certeza de que a morte pode chegar mesmo enquanto escrevo essas linhas a lápis, apoiado no tampo de mármore de uma mesa de bar.

Mas não era nada disso que eu queria dizer.

Leio Guimarães e fico cá pensando que um homem que escreve como escreve sobre a infância só pode ser um homem bom. Não digo “ter sido” em respeito à crença do mesmo na metempsicose e quejandos. Há algo de reconfortante em se pensar que uma “alma” com a de Guimarães não apodreceu juntamente com a madeira de seu caixão. Minto para mim mesmo para me permitir considerar a hipótese contrária.

Óbvio, a “alma” de Guimarães está tão viva que escrevo (eu, reles mortal) sobre ela. Porém, sou egoísta, e penso que deveria haver permanência mais perene do que a posteridade. Talvez continuemos vivendo na terra que nos consome, no pólen espalhado pelos insetos. Parece-me pouco. Hoje, li Leonardo Boff dizendo que vivemos num planeta já velho. E quando o sol decidir por fim devorá-lo, para onde irão a terra e o pólen?

Voltando à vaca fria, que nem existe, de tão aleatório e mambembe é esse texto: Guimarães. Sem querer dizer algo de novo e retumbante sobre a terrível condição humana, Guimarães o faz. Nada em nada que li dele soa pretensioso, no mau sentido da palavra, que é quase o sentido inteiro. Ler “Campo geral” me fez pensar nas tardes despreocupadas que passei, na infância dos meus 5-8 anos, em Padre Miguel, no imenso quintal da minha memória, caçando caramujos, plantando feijões e amassando mato porque o cheiro do “caldo” que se formava era bom. A lembrança mais viva desse tempo é a de quando fui picado por uma abelha ao regar umas das várias árvores que havia no quintal; outra: o abacateiro que plantamos e que a proprietária mandou tirar; outra: Laika, nossa cadela, tomando banho de mangueira debruçada na piscina de plástico; e outra, e outra...

Tudo isso, essas memórias, esse texto, essa vida outra revivida, por causa de Guimarães. E também a contestação amarga de que a gente se mortifica, se embrutece, se coisifica a cada dia. Quando não pensa mais no cheiro gostoso do mato amassado e nas coisas assim, que nada têm a ver com dinheiro, carreira, vencer e outras metástases.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Conversando Literaturas – Guimarães, lavrador das palavras

“Aquilo da noite do nosso teatrinho foi de Oh. O estilo espavorido. Ao que sei, que se saiba, ninguém soube sozinho o que houve”. Ninguém soube, a mim cabe informar, porque ninguém lera antes as atas dos últimos encontros, ocorridos nos dias 08/05 e 05/06. Mas teve Conversando, tou mentindo não. Então vamos agora nos inteirar dos embates precedentes para não remarmos a esmo pela terceira margem. Atimbora!

Entre luas-de-mel e substâncias, em meio ao não-fato, o não tempo e o roubo de moças requisitadas para casórios em surdinas ocultas, a imagem secreta e temida, desfigurante e enevoada, perdida em fantásticas não-explicações, encerradas no espelho onde a simultaneidade torna-se possível. Estávamos presentes e não estávamos, enquanto nossas identidades se dissolviam diante um insistente perscrutar mútuo (nossos olhos padeciam da viciação de origem, defeitos com que crescemos e ao qual nos afeiçoamos) e enfim se desvaneciam, embrenhando-se no desconhecido rosiano. Este empenho, esta busca tomou corpo em terra de remediado lavrador, que de pobre não se suja, nem de rico se emporcalha, mas que por amor permite, sob seus auspícios, o enlace entre jovem casal que muito se lhe afigura, aformosando Sa-Maria Andrezza, santa mulher que de meio mal-passada, renovados os antigos votos diante o frescor da juventude tão acessível, passou a bela e remoçada, e avivado o fogo do amor, ante olhar outra vez apaixonado, dormiram abraçados, as mãos dadas, os padrinhos do matrimônio realizado em Santa-Cruz-da-Onça, com as graças de Seu Joaquim Norberto. E foi em fazenda próxima, por que não, que soubemos do amor arredio de Sinésio por Maria Exita, moça trazida pela mão de Nhatiaga, peneireira, por compaixão à pobre. Coube à Maria o ingrato serviço de quebrar, à mão, o polvilho nas lajes, azáfama cuja execução empreendia imperturbável, os olhos (sacis, tema para discussão cosmogônica) oferecidos bem abertos à lida diária. Foi no pelejo rústico do avio da farinha que sucedeu declaração e Sinésio (Você, quererá, a gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, comigo, vem e vai?), o polvilho coisa sem fim, perante o refulgir, o todo branco, avançou, parado com Maria (Vou demais), dentro da luz, como se fosse o dia de Todos os Pássaros.

Estas estórias, lidas e conversadas, tornar-se-ão, entre nós, e talvez já tenham adquirido mítica adequada para tanto, mais que célebres - notórias, notáveis. Tal qual o Damázio, dos Siqueiras, vindo da Serra, sem parar por seis léguas, apenas para confirmar o significado da fama: era boa ou má? Fasmigerado, faz-me-gerado, falmisgeraldo, familhas-gerado...seria então? O doutor, desfiando o vernáculo, foi interrompido pelo jagunço, pois a ele só servia o verivérbio, o estrito caroço; só assim retornaria em paz, homem perigosíssimo mas que já sem saúde nem idade desejava serenar-se. Comprovada sua condição insigne, foi-se pelo sertão, sem aperreios, apagadas as inquietações. Estas encontramos encarnadas no índio Tonico, antes Antonho de Eiesus, talvez Tonho Tigreiro – aquele que é onça, cujo tio é Jaguaretê. Perdido no rancho do Nhô Nhuão Guedes, arrepende-se com os viajantes pelo passado de desonçador, se arrenega de ter matado parente, se diz homem brabo, antes bicho arretado, mais: onça grande, que sai à caça, mata presa, mata gente. Exibe unhão preto, unha preta, diz que da câimbra repentina, do frio terrível que perpassa pelo corpo, surge animal feroz, conta de mortes pelas onças, homens a quem foram ofertadas. A pinga solta a língua farejadora do índio, relembra a boniteza boa de Maria Quirinéia e do amor por Maria-Maria, quer por medo impor respeito, contar que é onça, pedir perdão, implorar pela vida. Nós estávamos lá, ouvimos atônitos o gemido primitivo, o fim da besta, a morte da onça. Atiê...

Pois então, estávamos a sonhar em sala pequena, apertada, cheia de nós, nos últimos dois meses, e ainda nos resta mais um dia de pensamentos que se enveredam por vastos sertões, a conhecer gente de fantasia mas de vida cada vez mais viva ao menos em nossas mentes e corações. De verdade, hã-hã.

Têm medo não. Estaremos aqui dia 03/07 pra saideira.

Tâmujunto.
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Pérolas:
Ivan: "Ele é fantástico no sentido borgiano".
Max: "É óbvio que o Borges pensava". / "TAU! Eu que inventei, isso vai pegar". / "Vamos pensar no Guimarães como um lavrador das palavras"...
Fabiano: "Esse texto é muito mais caudaloso". (sobre Meu tio o Iauaretê). / "Esse é um dos melhores últimos parágrafos que eu já vi". (sobre Substância)
Marlon: "Os olhos dela acompanham o pilão; daí os olhos sacis, ora". (sobre Substância, seguríssimo da teoria)
Otavio: "Taquipariu, taquiupariu, TAQUIUPARIU". (o Otavio é muito repetitivo)
Primo do Max, que não voltou mais: "Vai ver é porque ele não tinha nada para colocar"; "o Sarney e o Guimarães..."; "mas eles eram diplomatas". (sem comentários)