domingo, 15 de abril de 2007

Segundo Encontro do Ciclo Guimarães Rosa

Houve uma época, não muito distante, em que as atas do Conversando Literaturas eram regiamente escritas e postadas em até 24 horas após o último encontro do grupo. Uma vez em casa, computador ligado, teto girando e pestanas dormentes, algo movimentava estes dedos de unhas roídas de encontro a teclas alvas e macias, gerando caracteres pitorescos os quais permitiam, assim, que a estória de mais uma rodada entre amigos fosse relatada em mínimos detalhes, aqueles mais sórdidos. Chegamos ao terceiro ano do projeto e vejam vocês – apenas hoje, dia 15 de abril, me dispus a contar, para quem não viu, como foram os debates ocorridos no dia 03, em salinha acadêmica do bloco C, nas entranhas do Gragoatá velho de guerra.

Idiossincrasias à parte, cosmogonias idem, o eterno retorno mostrou-se eficaz reunindo a todos mais uma vez para conversar literaturas. Otavio Meloni, aldaz (sic) capitão do ciclo, descolou para nós a salinha dos mestrandinhos de m*rda, andares acima de onde foi realizada a tertúlia do Rosa, nosso Guima, o que não detém o jacto de contar. As três gratas surpresas do bate-papo do dia 03 de abril não se aventuraram uma segunda vez conosco - e nós fomos tão educados e organizados. Entretanto, nosso quorum se manteve instável, a longa mesa de reuniões ficou pequena para as discussões engendradas àquela noite, e as fortes pancadas na mesa indicando interjeições impublicáveis – PQP, PÁRA TUDO! – ainda estavam lá.

Se reconstruir a memória é importante para a afirmação do eu, foi com curiosidade que visitamos uma mansão estranha, fugindo, atrás de serras e serras, sempre, e à beira da mata de algum rio, que proíbe o imaginar. Além do simples ato de recordar, o resgate de si mesmo, perdido no tempo e na lembrança, nos guiou através de uma casa-fazenda numa viagem – por que não, agora tudo o é – borgeana, onde o que se sabia se nos apresenta incerto, e o que se sente, num baque, é o que agora se torna auto-conhecimento. Sojornamos ultramuito por duas horas, mergulhados na história (e na estória) do menino-homem que viveu e mudou, e cujos fatos da infância se dissolveram, tornando lacunares as experiências do adulto que julga impossível saber-se. Se xurugamos ou não, ninguém soube, ainda buscando no horizonte o navegante audaz que partira em meio a olhares apaixonados e contos fantásticos que apenas existem em nossas infimículas inquietações de criança. E em meio a descobertas de outros lugares valetudinários, a descoberta do amor e as saudades de uma época mais simples, quando ainda éramos capazes de dizer coisas grandes em palavras pequenas. Com jóvia manseja, a menina de lá desvelava o mundo de cá com suas tiradas enigmáticas, e se chove ou não no pasto, o que importa – Deixa... Deixa... Vimos o arco-íris às duas da manhã, e na cabeça o caixãozinho cor-de-rosa, com enfeites verdes brilhantes onde descansaria o corpinho miúdo da menininha cabeçudota de olhos enormes...

E foi assim que começamos mais uma jornada, seguindo juntos os descaminhos da literatura e completando três anos de debates cada vez menos amistosos, sem jamais perder a ternura que embala nossa amizade. Quinto ciclo, terceiro ano – papo de primeira. E que me desculpem o trocadalho, pois não deu pra resistir.

E vamo bebê na praça.

TMMJ.

Frases da noite:
Max:
“Mas o clímax não é solução”. – justificando o injustificável.
Otavio: “Mamãe, achei outra!” – catando as pérolas no couro cabeludo do Rosa, o Guima.
Fabiano: “Eu tentei ser um escritor medíocre”... – exortando-se a uma mea-culpa que contou com nossa aquiescência.
Marlon: “...”! – distraído e apreensivo com a novidade rosiana.

1 Comentários:

Blogger ideiasaderiva disse...

Marlon,
acho que foi a melhor crônica do conversando literaturas.
Muito boa. Parabéns.
Em tempo: vale lembrar que o orientador teve que interromper a pancadaria, pois o tempo era curto.
Tmj.

16 de abril de 2007 às 04:27  

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