terça-feira, 5 de junho de 2007

"Careço de beber pra ficar alegre"

Isto não é linguagem – e o é, está claro. É rangido, é ronco de criatura-carroça moída e coada no chão duro. O texto de Guimarães Rosa é um reboliço só de som. Em “Meu tio, o Iauaretê” vira uma sinfonia. E, no caso, parece que ele fez muito mais com muito menos – parece que quanto mais tosca a expressão, mais rica a expressividade – ou serão meus olhos?

Não é um texto, mas uma partitura o que li em “Meu tio, o Iauaretê”.

Corro o risco de simplificar as coisas, como sempre, mas o texto rosiano alimenta o escritor de vontade.

***

Enquanto ninguém se prostidignifica
Eu vou fazendo das minhas... xiiiiii

***

Vôfazendum casebre com a pobreza
Do sal das miaságuas – tão pocas agüinhas miadas
Miserdalma comigo dura prum dia só de algumasora
I eu tamém "tou madurinho de irimbora"..
Todo um sonho torrado, e ralado, e moiado

Se eu te oiá muito longamente, eu enfeitiço dinovo
E este feitiço já tá bem bom de acabar.
Vai fazer chuá em otra prantação, coração
Vai pratear otra prantação, meu dengo
Que teu remédio cura menos que veneno

***

Eu vô inventar um alfinete sem ponta
e você inventa dele não ferir mais, coração
por cas de que quando eu tou muito alegre
eu gosto de chorar um poquinho. Bem assim, chuázinho.
Bem assim, chuázinho, chuázinho...

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