sábado, 31 de março de 2007

Primeiro Encontro - Prévias e considerações

Pois é galera, nessa terça dia 03 de abril começamos os debates sobre o velho Guima. Esse blog, que sempre estará atualizado sobre os acontecimentos do projeto, informes e atas dos encontros, também estará aberto às opiniões dos participantes e ao grito de quem quiser falar sobre o Homem nessa página eletrônica. Como prévia de terça re-avisamos que o encontro será a partir das oito da noite na sala 505C, aquela salinha utilizada para as defesas de mestrado e doutorado. No mais, aos que forem comparecer, cheguem com os textos lidos e com muita opinião pra jogar na mesa, afinal sem isso o conversando não funciona direito. Grande abraço a todos e as saudações rosianas desse ano III do projeto Conversando Literaturas. Segue abaixo o poema de Drummond em Homenagem ao Rosa, que lemos na tertúlia de inauguração.


UM CHAMADO JOÃO

Carlos Drummond de Andrade

João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas,
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal ele era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?

Era um teatro
e todos os artistas
no mesmo papel,
ciranda multívoca?
João era tudo?
tudo escondido, florindo
como flor é flor, mesmo não semeada?
Mapa com acidentes
deslizando para fora, falando?
Guardava rios no bolso,
cada qual com a cor de suas águas?
sem misturar, sem conflitar?
E de cada gota redigia nome,
curva, fim,
e no destinado geral
seu fado era saber
para contar sem desnudar
o que não deve ser desnudado
e por isso se veste de véus novos?

Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
a chamado geral?

Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos poderes, das
supostas fórmulas
de abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?

E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?
Tinha parte com... (não sei
o nome) ou ele mesmo era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?

Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
de se pegar.

sábado, 24 de março de 2007

Ano III

Foi como de costume, numa noite de terça-feira chuvosa, que o Conversando Literaturas abriu 2007 apresentando João, o Guimarães Rosa, através de - quem diria, e quem dirá até - Meloni, aquele Otavio infame do primeiro ciclo, num bate-papo agradável em sala refrigerada do bloco C, no campus do Gragoatá. Mas e o Bandeja?

Na abertura deste quarto embate lá estávamos nós, os mesmos Max Heleno, Fabiano Morais, Ivan Kano e o responsável por estas linhas, perfilados elegantemente em fardões umedecidos pelos humores dos trópicos, a refrescar nossos corpos combalidos no ar-condicionado do Sr. Ismael Coutinho, também presente em espírito e em forma retangular, impresso em placa de metal com dizeres póstumos em douradas letras. Com alegria constatamos a eficácia dos cartazes espalhados por toda a Niterói num raio de um quarteirão, haja vista o quórum reunido àquela noite e, para completar a magia do encontro, foi com prazer que sentimos, aliviados, algumas ausências que já se tornaram folclóricas.

Era nossa propósito, após recesso de razoável duração, reportar as antigas tertúlias, trazer novamente à baila os vagabundos iluminados, os labirintos transformados em bibliotecas infinitas e os coelhinhos vomitados que se perderam pelo caminho, como uma maneira de talvez abrir trilha por entre a mata ainda cerrada de Guimarães Rosa, à espera de um "desenredo". Pois estávamos lá, como estávamos nos últimos dias de agosto de 2005, juntos mais uma vez para - o que mais - Conversar Literaturas e, para não fugir à regra, molhar as palavras. Assim voltamos, dispostos ainda e com novo arsenal de piadas mal-afamadas e discussões nada civilizadas que devem acabar com um dedo na cara, um sinal para o garçom - e um "tâmujunto" silabado, bem ao gosto da turma.

"Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia."
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TMJ.